Nos últimos meses, as queimadas têm tomado conta de diversas regiões do Brasil, desde o Pantanal até São Paulo, gerando uma densa fumaça que compromete a qualidade do ar e obscurece o céu.
Este fenômeno não só intensifica as ondas de calor, como também está provocando uma série de alterações climáticas que podem ter repercussões diretas na economia do país.
Economistas e especialistas destacam a importância de analisar com cuidado as consequências econômicas desses incêndios, especialmente no que diz respeito ao impacto sobre o custo dos alimentos. Veja a seguir quaais os riscos de aumento por conta das queimadas!
Impacto Ambiental e Econômico das Queimadas
A devastação causada pelos incêndios não se limita apenas ao meio ambiente; ela também tem o potencial de aumentar os custos dos produtos agrícolas cultivados nas áreas afetadas.
A fumaça densa resultante dos incêndios pode, por sua vez, agravar os problemas já existentes de seca, afetando ainda mais a produção de alimentos e, consequentemente, os preços para os consumidores.
No entanto, a relação direta entre as queimadas e a inflação dos alimentos ainda é um tema de debate. Economistas alertam que é preciso ter cautela antes de afirmar que os preços dos alimentos já estão subindo devido aos incêndios.
A economista Carla Beni, professora de MBA na Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam uma desinflação de 0,02% em agosto, sugerindo que o impacto imediato das queimadas na inflação dos alimentos ainda não é evidente.
Considerações sobre Preços e Estoques
Carla Beni ressalta que é importante não utilizar as queimadas como uma justificativa para o aumento de preços de produtos que ainda possuem estoques consideráveis e que não foram diretamente afetados pelos incêndios.
Esse comportamento pode ser comparado às práticas observadas em alguns postos de gasolina, que frequentemente antecipam reajustes sem uma razão real para tal. Essa prática é considerada não apenas imoral, mas também enganosa para os consumidores.
Quem se Beneficia com as Queimadas?
Embora possa parecer contraditório, setores que dependem da natureza para suas operações podem se beneficiar de desastres ambientais como as queimadas.
O presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Rodrigo Agostinho, explica que a crise climática em agravamento, combinada com o desmatamento e a falta de conscientização, contribui significativamente para o aumento das queimadas.
Ele aponta que a estratégia de desmatamento por meio do fogo é mais barata e menos sujeita a fiscalização do que o desmatamento tradicional.
Desafios e Oportunidades para o Agronegócio
Além disso, os desmatadores encontram vantagens no mercado financeiro, uma vez que a Bovespa, que movimenta R$560 bilhões do agronegócio, não possui mecanismos rigorosos de punição para crimes ambientais.
Historicamente, situações similares à queima do café em 1930 mostram que, com um excesso de mercadorias, os preços podem cair, mas qualquer sinal de escassez pode levar a aumentos significativos.
Distribuição dos Focos de Incêndio
Em São Paulo, mais da metade dos focos de incêndio ocorreram em fazendas privadas, com apenas 11 registrados em terras públicas, como assentamentos e terras indígenas.
A maior parte dos incêndios (81,29%) foi observada em áreas destinadas à agricultura e pecuária, incluindo grandes empresas como São Martinho SA e Raízen SA. Esse cenário coincidiu com um aumento nas cotações internacionais do açúcar no final de agosto, logo após o início das queimadas.
Possíveis Efeitos nos Preços dos Alimentos
De acordo com a economista Carla Beni, a produção de cana-de-açúcar no Brasil, que é composta por 75% voltada para exportações e 25% para o mercado interno, pode enfrentar um aumento nos preços nos próximos meses devido à devastação causada pelas queimadas.
No entanto, a elevação imediata dos preços de frutas e hortaliças como abacate, laranja e limão não é garantida e dependerá do nível de estoque disponível.